quinta-feira, 25 de março de 2010

UM ACIDENTE NO RIO SOUSA

VERDADEIRA HISTÓRIA!
Uma longa-metragem “Um acidente no rio Sousa”
Foi estreia 25 de Março de 2007.

Um filme  em painel gigante,levado a efeito no Salão polivalente da Junta de Freguesia de Novelas.
Com textos, um guião, orientação e a colaboração, Luísa Cruz, os jovens conseguiram fazer pasmo. O seu sorriso descreve uma história de aventura magnífica.


Breves palavras de agradecimento.
“A vida é o filme que você vê através dos seus próprios olhos, e lhe faz pouca diferença o que está a acontecer”. O que conta é como você percebe que a que a terra gira e sem se aperceber, o solo que pisa não parece mexer-se, e então vive tranquilo.
É assim que o tempo passa na nossas vidas.
Com contestação se fez luz e a tão desejada, controversa e admirável longa-metragem está aqui mesmo.
No entanto, veja com determinação, abrace a vida, e viva com paixão, como vê não tiramos qualquer proveito e se perdemos foi com classe e tivemos ousadia, tal como na, história.
- “…quando os textos já estavam prontos e o final parecia não acontecer, encerrava-se o trabalho com um fim dramático de forma a finaliza-lo, sem correr risco de criar lesões e ao mesmo tempo sensibilizar o público.
Foi uma dedicação e um empenho muito grande, para mim que pouco conhecia sobre a história de Novelas e dos Novelenses, mas que fiquei muito entusiasmada e a conhecer melhor”.
- “…tudo parecia correr normalmente, mas não formava razão a existência de uma história sem algo que a fizesse encaminhar, uma lenda e um mito, era mais do que necessário.
Com muito carinho a professora Maria Irene Pinto, se prontificou de imediato a registar esse momento, e foi a autora, da Lenda e do Mito. Era o essencial para se poder concluir o trabalho”.

“Foi, num verão, á muitos e muitos anos, que o Chico desapareceu na ponte do Codeço numa noite de luar.
Quem por lá passa diz que é verdade, que se ouvem vozes, fazendo com que os menos corajosos evitem esse caminho.

Introdução


A Ana culpa-se porque não pediu ajuda a tempo, a sua mãe e o seu pai não se conformam, com o sucedido, por sua vez o Tiago diz que a culpa é de todos eles, porque queriam ser corajosos e o resultado tinha-se visto.
O André tem a opinião de que não adiantava atribuir culpas.


Diz que o Zé do arco, era um vilão muito esperto, e não deixava por isso ser apanhado por um grupo de pirralhos, sendo o mais mal para o Chico que lá tinha ido, e que pelo menos deveriam encontrar o corpo para que pudesse descansar em paz. Dessa forma as pessoas não comentariam que ele andaria aí a penar pedindo ajuda.


Assim se criou a história, uma história que de forma alguma é real, e que nunca mas nunca poderá ser interpretada integralmente como verdadeira. Agora no mês de Julho de 2006, junto aos moinhos procedia-se á limpeza do rio e a quando da recuperação dos mesmos, e dois trabalhadores foram surpreendidos por um estranho achado, de imediato a notícia se espalhou de boca em boca pela freguesia de Novelas, e em menos de nada se amontoou muita gente. A Ana irmã do Chico também apareceu, com o coração apertado, afastou-se, pensava que agora iria ser encontrada realmente a verdade, 20 anos depois de ser oficialmente dado como desaparecido o seu irmão, e que irá ser feita a justiça.


A Ana uma mulher feita, encontra-se ansiosa e um pouco nostálgica, sente que estão a remexer no passado , e relembram aquela noite fatídica.
Uma aventura de crianças em que ela era protagonista, e que acabou mal..
Será que realmente são restos de um corpo, será que são do Chico, ou será apenas uma história. Vejam os vídeos






Maria Luísa Moreira da Cruz
Autora dos textos e Guião “Um acidente no rio Sousa”.



Personagens do filme “Um Acidente no Rio Sousa”


1 - Actor Principal Sénior:
“O Zé”.
Albino Barbosa, esta personagem é realmente fundamental, desempenha o papel de Zé do arco, é um actor já experiente pois fez vários trabalhos de encenador, e actor amador.
Desempenhou vários papéis em teatro e no dueto de Palhaços criando momentos de alegrias aos Novelenses. No filme é o líder em conjunto com o Sousa, e arrasta consigo o companheiro, para um assalto que vem a planear à bastante tempo. Esta personagem de carácter duro, não deixa que na realidade um grupo de pirralhos se atravesse no seu caminho, e alterem os seus planos. Vem a ser o principal responsável pelo acidente causado ao Chico. Um actor amador experiente, e conhecido dos Novelenses, desempenha um papel fundamental no filme e que cria momentos de alguma agitação no filme.
2 - Actor Principal Sénior:
“O Sousa”,
Luís “Crespin”, esta é um personagem que no filme desempenha o papel de Sousa. Acompanha sempre o Zé do arco, é o seu companheiro de equipa e serve como incentivo ao mesmo num assalto que o Zé vêm a planear á muito tempo. Faz-se acompanhar de uma arma, que o tenta proteger a si e ao seu companheiro, é de bom carácter mas não assume a morte fictícia do acidente do Chico. Atribui culpas ao seu companheiro neste acidente. Um actor amador que tão bem desempenha o seu papel, criando picos nos momentos mais maçudos do filme.

3 - Actor Principal Júnior:
“O Chico”.

Ricardo Alves, estudante, desempenha no filme a personagem “O Chico”. As suas capacidades são de um verdadeiro chefe, comanda um grupo de quatro jovens que pretendem tramar o Zé e o Sousa, onde mais tarde acaba por sofrer um acidente, desaparecendo sem deixar rasto, aparecendo vinte anos mais tarde vestígios seus a quando da obras da recuperação dos Moinhos. Um actor júnior amador que desempenha um papel fundamental do filme pois é em volta desta personagem que todo o filme se desenha, e que alimenta momentos de alguma agitação no grupo de que faz parte em conjunto com o André o Tiago e a Ana.

4 - Actor Principal Júnior:
“O André”.
Miguel Meireles estudante, desempenha no filme a personagem “O André” e faz parte de um grupo de quatro jovens que pretendem tramar o Zé e o Sousa. Quase sempre cauteloso e com algum receio, esta personagem pretende colmatar espaços vazios no grupo. Representa pela primeira vez e mostra-se bastante seguro nas suas tarefas, trazendo momentos de algum conhecimento na encenação em conjunto com os outros elementos.

5- Actriz Principal Júnior:
“A Ana”.
Inês Ribeiro, estudante, desempenha no filme a personagem “A Ana”, e as suas capacidades de interpretação são boas. Mantém um papel fundamental no grupo que o força a tomar decisões. Sempre cautelosa prevendo sempre o pior esta personagem, durante o inicio do filme que corre perigo, tendo o seu irmão o Chico tentado e com sucesso criar alguns receio aos dois vilões. Pela primeira vez desempenha um papel de representação e fundamental no filme criando alguns momentos de efervescência e alegria.
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6- Actor Principal Júnior:
“O Tiago”.
Miguel Póvoa, estudante, desempenha no filme a personagem “O Tiago” as suas capacidades de interpretação são excelentes, tendo em conta a sua idade, apresenta-se com uma base sólida do grupo e incentivam-no a movimentar-se. Pela primeira vez desempenha um papel de representação e no filme cria alguns momentos de alegria.






7 - Actriz secundária Júnior: “A Rita irmã do andré”.

Mónica Magno, Estudante, Cantora do grupo “Agostinho Costa e as Incansáveis”, participante vencedora do “Quero ser uma Estrela”. Esta actriz desempenha no filme a personagem de “Rita”, e as suas capacidades de interpretação, representação naturalmente não criam surpresas a quem a conhece. A Rita é irmã do André e representa um papel sensacional na casa dos mesmos acompanhados da sua avó, sua mãe e sua prima. A interpretação de um papel agradável e adequado á época, mostra-nos a realidade de ver representar tão bem.


8 - Actriz secundária Sénior: “A mãe do André”.

Helena Barbosa, colaboradora e organizadora nos trabalhos levados e a levar a efeito, funcionária da escola América Cardeal Rocha Melo, fez vários trabalhos de encenação e representação amadora, desempenhou vários papéis em teatro com momentos únicos na sua carreira e uma interpretação ímpar no papel de mãe, da Rita e do André. Naturalmente que o seu diálogo alterou a monotonia do filme ,onde com a sua aptidão foi capaz de desenvolver entusiasmo a quem o tiver oportunidade de ver.

9 - Actriz secundária Sénior: “A avó do André”.

Cármen Almeida, reformada, da escola América Cardeal Rocha Melo. Fez vários trabalhos de encenação e representação amadora, desempenhou vários papéis em teatro. A Avó do André também não cria surpresas a quem a conhece, com postura e firmeza, mostra-nos como as mães e avós da época eram firmes nas suas atitudes em ambientes familiares. Como é encantador ver representar tão bem.

10 - Actriz secundária Sénior: “A avó do Tiago”

Ludovina Malheiro, reformada, fez vários trabalhos de encenação e representação amadora, desempenhou também, vários papéis em teatro. A Avó do Tiago não criou também surpresas, muito atarefada e com vários afazeres, trata da lida da casa deixando tempo livre para a sua filha que trabalha e é mãe do Tiago. Uma interpretação e um trabalho deslumbrante a não perder.

11 - Actriz secundária Sénior: “A mãe do Tiago”.

Natália Póvoa, colaboradora, é o seu primeiro trabalho de encenação e criou surpresas agradáveis. Com muito empenho e capacidade de saber ver a verdade, esta colaboradora surpreendeu muito pela positiva.
A surpresa é naturalmente vê-la representar tão bem.

12 - Actriz secundária Sénior: “A Rosa”

Fátima Teixeira, doméstica, é o seu primeiro trabalho de encenação, a Rosa é uma avó com netos que a filha abandonara quando eles eram pequenos e com muitas dificuldades económicas, mas é uma avó humilde e honesta, e foi realmente uma surpresa agradável de se ver

13 - Actor secundário Sénior: “Sô Dias (O Cobrador)

Manuel Moura, Reformado, criou naturalmente uma surpresa positiva e agradável inserido no filme como um antigo cobrador de electricidade, representa pela primeira vez e muito bem o papel que lhe fora entregue. As surpresas são naturalmente muitas e esta é uma delas, um papel agradável e adequado á época, encantador de se ver representar tão bem.
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14 Actriz secundária Júnior: “A prima do André”

Vanessa Ferreira estudante, esta personagem desempenha no filme o papel de “Prima do André”, as suas capacidades de interpretação, representação surpreenderam pela positiva. A Vanessa apresenta-nos também com realismo a lenda e o mito na gravação do filme.
15 Actor secundário Sénior: “António”

Luís Manuel Barbosa, Electricista, criou surpresa positiva e agradável inserido no filme como um frequentador da loja familiar da Glorinha e amigo do Sô Dias o, primeiro mantêm um diálogo afável com o Sô Dias no sentido de prestar auxílio á Rosa.
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16 Actriz secundária Sénior: “Glorinha”


Maria José, doméstica, criou naturalmente uma surpresa positiva e agradável inserida no filme como a proprietária da mercearia esta mulher representou o seu papel com firmeza e conhecimento. As surpresas são naturalmente muitas e esta também é uma delas.
Agradecimentos


Obrigado pelas vossas palavras Sr. Presidente, sabemos que o triunfo pertence a quem mais se atreve e a vida é muito importante para ser insignificante, mas porque você foi parte integrante nele ou até porque foi colaborador, patrocinador, participante activo, participante expedito, figurante, ou até apenas porque assistiu ao nosso trabalho, desta forma agradecemos, manifestamos a estima e reconhecemos todo o empenho, por si provado para que este projecto único se tornasse uma realidade.

O realizador:

Novelas 25 Março 2010





segunda-feira, 22 de março de 2010

DVD - 44 "MAXIMINO SOUSA"


ASSOCIAÇÃO PADRE MAXIMINO!

O Povo ouvia-o e seguia-o em Vila Real de Trás-os-Montes, e era também aí onde também ele seguia na íntegra os ensinamentos da Bíblia e a palavra de Jesus. Como poucos e para quem acreditava, notava-se que as suas palavras eram proferidas e estavam a entoar nos montes, vales, aldeias, vilas e cidades.

David.
 

 Defendia com convicção os mais necessitados e tornava-se por isso numa ameaça para a direita fascista e para a igreja hipócrita daquele tempo.
Faz no dia 2 de Abril, e num dia igual a tantos outros com uma pequena diferença de não estarmos em 1976, que Maximino de Sousa Barbosa com 33 anos foi assassinado duma forma cruel e cobarde.

Calos Cunha.
 

Ficou decidido que seria esse o dia em que ia morrer. Uma bomba com controlo remoto covardemente colocada no seu carro mata-o a ele e à jovem estudante Maria de Lurdes, sua aluna a quem dera boleia.
Passaram-se também 33 anos da sua morte, e é um dever lembrar-mos aquele que foi um defensor dos pobres, da justiça e dos mais necessitados. Parecia que já nesse tempo adivinhava, que o rumo apontava neste caminho, a falta de humanismo e de solidariedade, a corrupção e a ganância, a inveja e a falsidade levaram a um resultado que assolou a Europa e o Mundo, a que hoje chamam de: “Crise”.

Fernanda Cardoso.


Muitos nem ouviram falar. Outros dirão quem foi?
Povo de memória curta. Padre Maximino, era mesmo um apóstolo dos princípios mais elementares onde há alguns anos atrás, no dia em que o cravo e o pão se deveriam igualar na mesa da justiça foi para ele um dia de alegria e esperança.
Sonhou um País melhor, lutou por ele com muitas limitações, e cerrou os dentes ao debater-se pelos mais desfavorecidos.

José António.
 

Mas todos sabemos que os justos não sobrevivem, e a hipocrisia da ordem que o tinha ordenado Sacerdote não se pronunciou com a sua morte, muito menos para que a verdade viesse ao de cima.
Teriam muito a perder, "os autores morais mantiveram-se escondidos por trás da cobardia que lhes era habitual" assim como, alguns capangas já falecidos.

Leonor Reis.


Mário Brochado Coelho, o advogado que durante mais de 20 anos lutou para que o caso fosse a tribunal e os responsáveis fossem condenados, não poupou as palavras: "Mataram premeditadamente o padre Max, mesmo sabendo que ele levava no carro uma jovem – o que é típico da extrema-direita portuguesa, do absolutismo até hoje", acrescentou Brochado Coelho.
Também muitos que se dizem de esquerda, impingiram a toda a hora a cassete sobre as turbulências do chamado "verão quente", tantas vezes o repetem que alguns até já acreditam que foi isso que aconteceu.

Figas.


Quem não se lembra do regime de terror imposto por tais arruaceiros (sobretudo em localidades fora dos grandes centros). Quem não se lembra dos mortos junto à sede da PIDE?
Quem não se lembra dos atentados bombistas?
Transmitam aos vossos amigos e todos juntos vamos entender e saber quem foi este padre que tão sabiamente soube transmitir os ensinamentos de Jesus e por isso mesmo nunca foi reconhecido nem lembrado, pelos diversos poderes deste país.
Um homem bom que sempre serviu o povo sem se servir dele e por isso foi assassinado.
No próximo dia 3 de Abril, às 21,30 horas, na Associação Padre Maximino, rua 25 de Abril nº 10, em S. Pedro da Cova, evocaremos a figura incontornável deste “HOMEM, HUMANISTA E SACERDOTE” e não um político porque, nunca o chegou a ser.

Nóvel Àrtecine, e Jovens na Ocupação de Tempos Livres, de Novelas Penafiel.
Um Grupo, e Organização, não financiados sem fins lucrativos.



 
PADRE MAXIMINO BARBOSA DE SOUSA.

No dia 20 de Março de 2010,a anteceder o dia Mundial da Poesia, a Associação Padre Maximino fez questão de apresentar mais uma noite de versos e poemas com inspiração.
Foram recitadas várias poesias e algumas fizeram recordar o tempo da escola primária em que autores consagrados, e outros autores poetas que estiveram presentes, marcaram de uma forma admirável e fizeram recordar
O encontro, orientado por Teresa Gama e José Alves Silva já tem várias vezes sido o local de encontro em noites idênticas. Contaram com a participação de várias pessoas de S. Pedro da Cova e de outros locais, e relembraram tempos antigos, tendo para isso apresentado o seu poema.

Filó.


Foi estimulante, o convívio e a forma participativa de um povo de origem mineira que muito alegrou e participou, terminando sempre, com um chã acompanhado com um bolo para adoçar os presentes.
Estas noites contaram com a animação Musical a cargo de, José Ramalho e Carlos Cunha a intercalarem as poesias, com cantigas que estimularam e cativaram o público, sempre com muitos aplausos e ovações.

Maria de Lourdes.

A Nóvelartecine esteve presente, reportou e deixa aqui alguns dos momentos, com as Musicas, Poetas e Poetizas como:

Ramalho - 3 Cantigas.


Filó.


Maria de Lourdes.


Lena.


Miguel Meireles.


André Ramos.


Carlos Cunha.




José Ramalho



E muitos outros que ficarão para recordar.

Nóvel Àrtecine, e Jovens na Ocupação de Tempos Livres, de Novelas Penafiel.
Um Grupo, e Organização, não financiados sem fins lucrativos.

Novelas 22 de Março de 2010







sábado, 20 de março de 2010

ZECA AFONSO


ASSOCIAÇÃO JOSÉ AFONSO

"Eu não sei se isso de recordar o nascimento corresponde a um conteúdo repetido dos sonhos (...). Agora que existe uma imagem persistente, uma luz muito difusa (...), uma luz láctea, uma luz imanente, uma luz muito vital (...) como se fosse um banho de leite que me mergulhasse a mim ou que mergulhasse o Universo.
Uma larva branca. É a impressão que eu tenho."


José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro, filho de José Nepomuceno Afonso, juiz, e de Maria das Dores Dantas Cerqueira, professora primária.
Em 1930 os pais foram para Angola, onde o pai tinha sido colocado como delegado do Procurador da República em Silva Porto. José Afonso permanece em Aveiro, na casa da Fonte das Cinco Bicas, por razões de saúde, confiado à tia Gegé e ao tio Xico, um «republicano anticlerical e anti-sidonista».
Por insistência da mãe, em 1933 Zeca segue para Angola, com três anos e meio, no vapor Mouzinho, acompanhado por um tio advogado em lua-de-mel. Um missionário é a companhia de José Afonso que permanece três anos em Angola, onde inicia os estudos da instrução primária.
Em 1936 regressa a Aveiro, para casa de umas tias pelo lado materno.
Parte em 1937 para Moçambique ao encontro dos pais, com quem vive juntamente com os irmãos João e Mariazinha.
Regressa a Portugal, em 1938, desta vez para casa do tio Filomeno, presidente da Câmara Municipal de Belmonte. Aqui conclui a quarta classe. O tio, salazarista convicto, fá-lo envergar a farda da Mocidade Portuguesa.
Vai para Coimbra em 1940 para prosseguir os estudos. É matriculado no Liceu D. João III e instala-se em casa da tia Avrilete, tia paterna que vivia à Av. Dias da Silva, actual nº112. No liceu conhece António Portugal e Luiz Goes. A família parte de Moçambique para Timor, onde o pai vai exercer as funções de juiz. Mariazinha vai com eles, enquanto seu irmão João vem para Portugal. Com a ocupação de Timor pelos Japoneses, José Afonso fica sem notícias dos pais durante três anos, até ao final da II Guerra Mundial, em 1945.
Nesse mesmo ano começa a cantar serenatas como «bicho», designação da praxe de Coimbra para os estudantes liceais (José Afonso andava no 5.º ano do liceu). Era conhecido como «bicho-cantor», o que lhe permitia não ser «rapado» pelas «trupes». Vida de boémia e fados tradicionais de Coimbra.
De 1946 a 1948 completa o curso dos liceus, após dois chumbos. Conhece Maria Amália de Oliveira, uma costureira de origem humilde, com quem vem a casar em segredo, por oposição dos pais. Faz viagens com o Orfeão e com a Tuna Académica. Joga futebol na Associação Académica de Coimbra.


Em 1949, dispensado do exame de aptidão à Universidade, inscreve-se no primeiro ano do curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras. Vai a Angola e Moçambique integrado numa comitiva do Orfeão Académico da Universidade de Coimbra.
Em Janeiro de 1953 nasce-lhe o primeiro filho, José Manuel. Dá explicações e faz revisão no Diário de Coimbra. São editados os seus primeiros discos. Trata-se de dois discos de 78 rotações com fados de Coimbra, editados pela Alvorada, dos quais não existem hoje exemplares. Os dois discos foram gravados no Emissor Regional de Coimbra da Emissora Nacional.
De 1953 a 1955 cumpre, em Mafra, serviço militar obrigatório. Foi mobilizado para Macau, mas livrou-se por motivos de saúde. Depois é colocado num quartel em Coimbra. Tem grandes dificuldades económicas para sustentar a família, como refere em carta enviada aos pais em Moçambique. A crise conjugal é muito sentida. Após o serviço militar, já com dois filhos, José Manuel e Helena (nascida em 1954), conclui em 1963 o curso na Faculdade de Letras de Coimbra com 11 valores com uma tese sobre Jean-Paul Sartre: «Implicações substancialistas na filosofia sartriana».
Vai dar aulas num colégio privado em Mangualde de 6 de Janeiro a 30 de Setembro de 1957. Passa a, então, à cndição de estudante voluntário da Universidade, inod com frequência a Coimbra, não só para fazer exames na Faculdade de Letras, mas por continuar a ser bastante solicitado para cantar em serenatas, espectáculos e digressões dos organismos autónomos. Inicia-se o processo de separação e posterior divórcio de Amália (1 de Junho de 1963). José Afonso manterá uma névoa de silêncio em redor desta sua experiência conjugal.
Em 1956 é editado o seu primeiro EP, intitulado Fados de Coimbra. De 28 de Outubro de 1957 a 22 de Julho de 1958 foi professor provisório nas Escola Industrial e Comercial de Lagos.
Por dificuldades económicas, em 1958 envia os dois filhos para Moçambique, para junto dos avós. Neste ano fica impressionado com a campanha eleitoral de Humberto Delgado. Digressão de um mês em Angola da Tuna Académica. José Afonso é o vocalista do Conjunto Ligeiro. «Actuámos vestidos com umas largas blusas de cetim, cada uma de sua cor, imitando a orquestra de "mambos" de Perez Prado, o máximo da altura», conta José Niza.


A 4 de Dezembro de 1957, José Afonso actua em Paris, no Teatro "Champs Elysées" ao lado de Fernado Rolim, voz, António Portugal e David Leandro nas guitarras de Coimbra e Sousa Rafael e Levy Baptista nas violas.
De 7 de Outubro de 1958 a 18 de Julho de 1959 é professor provisório nas Escola Industrial e Comercial de Faro.
Em 1959 começa a frequentar colectividades e a cantar regularmente em meios populares.
Nos inícios do ano lectivo de 1959/60 é colocado por 10 dias num colégio em Aljustrel, transitando depois para a Escola Técnica de Alcobaça onde é professor provisório entre 3 de Outubro de 1959 e 30 de Julho de 1960.
Em 1960 é editado o quarto disco de José Afonso. Trata-se de um EP para a Rapsódia, intitulado Balada do Outono.
Em Agosto faz nova digressão com o orfeão Académico de Coimbra a Angola. Ainda em 1960 desloca-se a Paris e Genebra, onde grava com Fernado Rolim, voz, António Portugal e David Leandro nas guitarras de Coimbra e Sousa Rafael e Levy Baptista nas violas, onde naquela cidade helvética grava uma serenata para a Eurovisão.
De 1961 a 1962 segue atentamente a crise estudantil deste último ano. Convive em Faro com Luiza Neto Jorge, António Barahona, António Ramos Rosa e Pité e namora com Zélia, natural da Fuzeta, que será a sua segunda mulher.
Em 1962 é editado o álbum Coimbra Orfeon of Portugal, pela Monitor, dos Estados Unidos, com «Minha Mãe» e «Balada Aleixo», onde José Afonso rompe definitivamente com o acompanhamento das guitarras. Nestas duas baladas é acompanhado exclusivamente à viola por José Niza e Durval Moreirinhas.
Realiza digressões pela Suíça e Alemanha onde gravam para a televisão e Suécia onde actua na Gala dos Reais Clubes Suecos, integrado num grupo de fados e guitarras, na companhia de Adriano Correia de Oliveira, José Niza, Jorge Godinho, Durval Moreirinhas e ainda da fadista lisboeta Esmeralda Amoedo.
Em 1963 é editado outro EP de Baladas de Coimbra. Volta a ser professor provisório nas mesma escola em Faro, de 19 de Outubro de 1962 a 31 de Julho de 1963.


Em Maio de 1964, José Afonso actua na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, onde se inspira para fazer a canção «Grândola, Vila Morena», que viria a ser no dia 25 de Abril de 1974 a senha do Movimento das Forças Armadas (MFA) para o derrube do regime ditatorial.
Nesse mesmo ano é editado o EP Cantares de José Afonso, o único para a Valentim de Carvalho.
Também em 1964 é editado, pela Ofir, o álbum Baladas e Canções, que virá a ser reeditado em CD pela EMI em 1996.
De 1964 a 1967, José Afonso encontra-se em Lourenço Marques com Zélia, onde reencontra os seus dois filho. Nos últimos dois anos, dá aulas na Beira. Aqui musicou Brecht na peça A Excepção e a Regra. Em Moçambique nasce a sua filha Joana (1965).
Em 1967 regressa a Lisboa esgotado pelo sistema colonial. Deixa o filho mais velho, José Manuel, confiado aos avós em Moçambique. Colocado como professor em Setúbal, sofre uma grave crise de saúde que o leva a ser internado durante 20 dias na Casa de Saúde de Belas. Quando sai da clínica, tinha sido expulso do ensino oficial. É publicado o livro Cantares de José Afonso, pela Nova Realidade. O PCP convida-o a aderir ao partido, mas José Afonso recusa invocando a sua condição de classe. Assina contrato discográfico com a Orfeu, para quem grava mais de 70 por cento da sua obra.
Expulso do ensino, em 1968 dedica-se a dar explicações e a cantar com mais assiduidade nas colectividades da Margem Sul, onde é nítida a influência do PCP. Pelo Natal, edita o álbum Cantares do Andarilho, com Rui Pato, primeiro disco para a Orfeu. O contrato é sui generis: contra o pagamento de uma mensalidade (15 contos), José Afonso é obrigado a gravar um álbum por ano.
Em 1969 a Primavera marcelista abre perspectivas de organização ao movimento sindical. José Afonso participa activamente neste movimento, assim como nas acções dos estudantes em Coimbra. Edita o álbum Contos Velhos Rumos Novos e o single «Menina, dos Olhos Tristes» que contém a canção popular «Canta Camarada». Recebe o prémio da Casa da Imprensa para o melhor disco, distinção que repete em 1970 e 1971. Pela primeira vez num disco de José Afonso, aparecem outros instrumentos que não a viola ou a guitarra. Trata-se do último álbum com Rui Pato. Nasce o último filho, o quarto, Pedro.
Em 1970 é editado o álbum Traz Outro Amigo Também, gravado em Londres, nos estúdios da Pye, o primeiro sem Rui Pato, impedido pela PIDE de viajar. Carlos Correia (Bóris), antigo músico de rock, dos Álamos e do Conjunto Universitário Hi-Fi, substitui Pato. A 21 de Março, por unanimidade, a Casa de Imprensa atribui a José Afonso o Prémio de Honra pela «alta qualidade da sua obra artística como autor e intérprete e pela decisiva influência que exerce em todo o movimento de renovação da música ligeira portuguesa». Participa em Cuba num Festival Internacional de Música Popular.
Pelo Natal de 1971, é lançado o álbum Cantigas do Maio, gravado perto de Paris, nos estúdios de Herouville, um dos mais caros e afamados da Europa. O álbum é geralmente considerado o melhor disco de José Afonso. A editora Nova Realidade publica o livro Cantar de Novo.
No ano de 1972 o álbum chama-se Eu Vou Ser Como a Toupeira, gravado em Madrid, nos Estúdios Cellada, com a participação de Benedicto, um cantor galego amigo de Zeca, e com o apoio dos Aguaviva, de Manolo Diaz. O livro, editado pela Paisagem, tem apenas o título de José Afonso.


Em 1973 José Afonso continua a sua «peregrinação», cantando um pouco em todo o lado. Muitas sessões foram proibidas pela PIDE/DGS. Em Abril é preso e fica 20 dias em Caxias até finais de Maio. Na prisão política, escreve o poema «Era Um Redondo Vocábulo». Pelo Natal, publica o álbum Venham Mais Cinco, gravado em Paris, em que José Mário Branco volta a colaborar musicalmente. No tema-título, participa Janine de Waleyne, solista dos Swingle Singers, o melhor grupo vocal de jazz cantado da altura, na opinião de José Niza.
A 29 de Março de 1974, o Coliseu, em Lisboa, enche-se para ouvir José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Manuel Freire, José Barata Moura, Fernando Tordo e outros, que terminam a sessão com «Grândola, Vila Morena». Militares do MFA estão entre a assistência e escolhem «Grândola» para senha da Revolução. Um mês depois dá-se o 25 de Abril. No dia do espectáculo, a censura avisara a Casa de Imprensa, organizadora do evento, de que eram proibidas as representações de «Venham Mais Cinco», «Menina dos Olhos Tristes», «A Morte Saiu à Rua» e «Gastão Era Perfeito». Curiosamente, a «Grândola» era autorizada. É editado o álbum Coro dos Tribunais, gravado em Londres, novamente na Pye, com arranjos e direcção musical, pela primeira vez, de Fausto. São incluídas as canções brechtianas compostas em Moçambique no período entre 1964 e 1967, «Coro dos Tribunais» e «Eu Marchava de Dia e de Noite (Canta o Comerciante)».
De 1974 a 1975 envolve-se directamento nos movimentos populares. O PREC (Processo Revolucionário Em Curso) é a sua paixão. Cantou no dia 11 de Março de 1975 no RALIS para os soldados. Estabelece uma colaboração estreita com o movimento revolucionário LUAR, através do seu amigo Camilo Mortágua, dirigente da organização. A LUAR edita o single «Viva o Poder Popular» com «Foi na Cidade do Sado» no lado B. Em Itália, as organizações revolucionárias Lotta Continua, Il Manifesto e Vanguardia Operaria editam o álbum República, gravado em Roma a 30 de Setembro e 1 de Outubro, nos estúdios das Santini Edizioni. As receitas do disco destinavam-se a apoiar a Comissão de Trabalhadores do jornal República ou, caso o jornal fosse extinto, como foi, o Secretariado Provisório das Cooperativas Agrícolas de Alcoentre. Desconhecido em Portugal, o álbum inclui «Para Não Dizer Que Não Falei de Flores» (Geraldo Vandré), «Se os Teus Olhos se Vendessem», «Foi no Sábado Passado», «Canta Camarada», «Eu Hei-de Ir Colher Macela», «O Pão Que Sobra à Riqueza», «Os Vampiros», «Senhora do Almortão», «Letra para Um Hino» e «Ladainha do Arcebispo». Francisco Fanhais colaborou na gravação do disco, juntamente com músicos italianos.
Em 1976 apoia a candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, cérebro do 25 de Abril e ex-comandante do COPCON (Comando Operacional do Continente), apoio que reedita em 1980. Fase cronista de José Afonso, que publica o álbum Com as Minhas Tamanquinhas. O disco tem a surpreendente participação de Quim Barreiros. É, na opinião de José Niza, «um disco de combate e de denúncia, um grito de alma, um murro na mesa, sincero e exaltado, talvez exagerado se ouvido e lido ao fim de 20 anos, isto é, hoje». É a «ressaca» do PREC.
O álbum Enquanto Há Força, editado em 1978, de novo com Fausto, representa mais um exemplo da fase cronista do cantor, ligada às suas preocupações anti-colonistas e anti-imperialistas e à sua crítica mordaz à Igreja. Inclui as participações, entre outras, de Guilherme Inês, Carlos Zíngaro, Pedro Caldeira Cabral, Rão Kyao, Luís Duarte, Adriano Correia de Oliveira e Sérgio Godinho.
Em 1979 é editado o álbum Fura Fura, com a colaboração musical de Júlio Pereira e dos Trovante. O disco inclui oito temas de música para teatro, compostos para as peças Zé do Telhado, de A Barraca, e Guerra do Alecrim e Manjerona, da Comuna. Actua em Bruxelas no Festival da Contra-Eurovisão.
Em 1981, após dois anos de silêncio, regressa a Coimbra com o seu álbum Fados de Coimbra e Outras Canções. Trata-se da mais bela versão do fado de Coimbra, interpretada por Zeca Afonso em homenagem a seu pai e a Edmundo Bettencourt, a quem o disco é dedicado. Actua em Paris, no Théatre de la Ville.


Em 1982 começam a conhecer-se os primeiros sintomas da doença do cantor, uma esclerose lateral amiotrófica. Trata-se, aparentemente, de um vírus instalado na espinal medula que, de uma forma progressiva, destrói o tecido muscular e, normalmente, conduz à morte por asfixia. Actua em Brouges no Festival de Printemps.
Em 29 de Janeiro de 1983 realiza-se o espectáculo no Coliseu com José Afonso já em dificuldades. Participam Octávio Sérgio, António Sérgio, Lopes de Almeida, Durval Moreirinhas, Rui Pato, Fausto, Júlio Pereira, Guilherme Inês, Rui Castro, Rui Júnior, Sérgio Mestre e Janita Salomé. É publicado o duplo álbum Ao Vivo no Coliseu.
No Natal desse ano, sai Como Se Fora Seu Filho, um testamento político. Colaboração de Júlio Pereira, Janita Salomé, Fausto e José Mário Branco. Alinhamento: «Papuça», «Utopia», «A Nau de António Faria», «Canção da Paciência», «O País Vai de Carrinho», «Canarinho», «Eu Dizia», «Canção do Medo», «Verdade e Mentira» e «Altos Altentes». Algumas das canções foram escritas para a peça Fernão Mentes? do grupo de teatro A Barraca. Publicado o livro Textos e Canções, com a chancela Assírio e Alvim. Contra a sua vontade, é publicado pelo Foto Sonoro um maxi-single, Zeca em Coimbra, com um espectáculo dado por Zeca no Jardim da Sereia, na Lusa Atenas, a 27 de Maio. A cidade de Coimbra atribui a José Afonso a Medalha de Ouro da cidade. «Obrigado Zeca, volta sempre, a casa é tua», disse-lhe o presidente da Câmara, Mendes Silva. «Não quero converter-me numa instituição, embora me sinta muito comovido e grato pela homenagem», respondeu José Afonso. O Presidente da República, general Ramalho Eanes, atribui a José Afonso a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa-se a preencher o formulário. Em 1994, o Presidente da República Mário Soares tentou de novo condecorar, postumamente, José Afonso com a Ordem da Liberdade, mas a mulher, Zélia, recusou, alegando que se José Afonso não desejou a distinção em vida, também não seria após a sua morte que seria condecorado.
Em 1983 José Afonso é reintegrado no ensino oficial, tendo sido destacado para dar aulas de História e de Português na Escola Preparatória de Azeitão. Tinha sido expulso em 1968. A doença, agrava-se.
Em 1985 é editado o último álbum, Galinhas do Mato. José Afonso já não consegue cantar todos os temas, sendo substituído por Luís Represas («Agora»), Helena Vieira («Tu Gitana», Janita Salomé («Moda do Entrudo», «Tarkovsky» e «Alegria da Criação»), José Mário Branco («Década de Salomé», em dueto com Zeca), Né Ladeiras («Benditos») e Catarina e Marta Salomé («Galinhas do Mato»). Arranjos musicais de Júlio Pereira e Fausto. Outras canções do álbum: «Escandinávia Bar-Fuzeta» e «À Proa».
Em 1986 apoia a candidatura presidencial de Maria de Lourdes Pintassilgo, católica progressista.
José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada em 1982. O funeral realizou-se no dia seguinte, com mais de 30 mil pessoas, da Escola Secundária de S. Julião para o cemitério da Senhora da Piedade, em Setúbal, onde a urna foi depositada às 17h30 na sepultura 1606 do quadro 19. O funeral demorou duas horas a percorrer 1300 metros. Envolvida por um pano vermelho sem qualquer símbolo, como pedira, a urna foi transportada, entre outros, por Sérgio Godinho, Júlio Pereira, José Mário Branco, Luís Cília, Francisco Fanhais. A Transmédia editou o triplo álbum, o primeiro da história discográfica portuguesa, Agora e Sempre, duas semanas depois da morte do cantor. O triplo disco é constituído pelos álbuns Como Se Fora Seu Filho (1983) e Galinhas do Mato (1985) e por um alinhamento diferente de Ao Vivo no Coliseu (1983). A 18 de Novembro é criada a Associação José Afonso com o objectivo de ajudar a realizar as ideias do compositor e intérprete no campo das Artes.

" Admito que a revolução seja uma utopia, mas no meu dia a dia procuro comportar-me como se ela fosse tangível. Continuo a pensar que devemos lutar onde exista opressão, seja a que nível for."


Nóvel Àrtecine, e Jovens na Ocupação de Tempos Livres, de Novelas Penafiel.
Um Grupo, e Organização, não financiados sem fins lucrativos.
"Um, humano."

ZECA AFONSO - MAFAMUDE
Autobiografia do ZECA
As minhas primeiras veleidades de cantor surgiram quando andava no 6º ano do liceu. As noites passava-as em deambulações secretas pela cidade, acompanhado de meia-dúzia de meliantes da minha idade, amantes inconsequentes da noite. Com uma guitarra e uma viola fazíamos a festa. Estávamos ainda longe do hieratismo triunfal das serenatas na Sé Velha diante de multidões atentas e respeitosas. O velho Flávio Rodrigues continuava a ser o «Mestre», venerado por um pequeno discipulado de guitarristas e acompanhadores que com ele se reuniam numa pequena casa do bairro de Celas onde acabou os seus dias minado por uma doença fatal.
Do convíviocom esse homem torturado ficou-me a recordação de uma instabilidade impotente e resignada ao peso das terríveis limitações materiais que acompanharam até ao fim o lento processo destruidor do nosso companheiro.
Seguiu-se um período de promoção fadística em que acabaram por me colocar no palanque das estrelas de primeira grandeza. Outros acompanhadores (peritos e sisudos) e outras oportunidades em viagens promovidas pela Tuna e pelo Orfeon. São dessa época as minhas idas a África e as tournées através da província. Recordo-me de ter participado na inauguração de uma auto-maca, para os bombeiros voluntários de Pádua e de, por diversas vezes, ter dormido ao relento nos «pinhais do rei».
Nestas andanças percorri as estradas do país esticando o polegar a quem passava sobre rodas, ou, mais afortunadamente, pagando com fados e canções a hospitalidade com que me recebiam em suas casas, pobre, ricos e fidalgos arruinados.


Por motivos económicos fui forçado a deixar Coimbra antes de concluído o curso e a leccionar em colégios particulares. O contacto concreto com a situação profissional no sentido mais amplo foi-me pouco a pouco endurecendo.
Em Coimbra as coisas mudavam lentamente. Novas remessas de estudantes, menos pitorescos mas mais conscientes do que os do meu tempo, mais devotados aos problemas que fatalmente surgiam num meio sufocado por tradição, as mais das vezes inútil, intentam, à semelhança do que já outras gerações haviam feito, romper declaradamente com o bafio, pôr de parte a quinquilharia passadista do velho romantismo do «Penedo», realizar ao nível associativo uma modernização da vida académica dentro dos limites a que os forçava o estreito meio geográfico em que viviam.
Lá longe no Algarve, chegavam-me os ecos destes acontecimentos. Embora em doses insignificantes, e já um pouco tarde, tentei acertar o passo por esse ritmo coordenador de energias há muito desencadeadas, mas sem o sentido de oportunidade de que careciam para se converterem em acção positiva e fértil.
Nessas pequenas descobertas adquiri a noção do tempo perdido, abominei a cidade onde a minha alegria de viver inutilmente estiolara ouvindo «tanger os bordões da viola», calcorreando ruas, frequentando as casas de prefo, bebendo bicas nos cafés da baixa ou escutando, mais por imposição do que por prazer, as arengas dos teóricos da bola.


Nalgumas andanças por Lisboa tomei esporádico contacto com outros meios estudantis. Rapazes novos, dinâmicos, combativos, de pés bem assentes na terra, com os quais, embora de uma forma efémera, muito me foi dado a aprender. Ganhei amizades, rejuvenesci e sobretudo senti na carne a urgência de alguns problemas que até então mal tinham afectado a minha maneira de ser.
Numa disposição de espírito muito diferente da que me levara a procurar fora de Coimbra uma largueza de horizontes que a cidade me negara, renovei um pouco o meu conhecimento dos homens e dos lugares. O Algarve foi por então a minha pátria adoptiva. Nos sapais da ria de Faro e nos areias do sotavento algarvio passava eu as melhores horas do dia junto do barco simbólico que o António Barahona salvara do esquecimento e da decomposição.
Só muito acidentalmente cantei. Em casamentos, baptizados, convívios efémeros, que sei eu? Como de resto sempre o tinha feito. As baladas surgiram como um produto anónino desse conjunto de circunstâncias, mas, também, com o tempo, sempre um interlocutor forçoso contava comigo. Mais do que simples forma musical vagamente lúdica ou combativa definiam uma atmosfera pré-existente nas coisas presentes e passadas. Nada mais do que um folclore de segunda ordem pronto a servir.
O Rui Pato ajudou-me nas situações de maior responsabilidade perante públicos mais exigentes ou nas gravações. Comecei por cantar o que me vinha à cabeça, nas praias do sul ou em curtas deambulações por terras de província onde ampliei, fora do ambiente universitário, as minhas experiências mais duradoiras.
A mais recente pausa da minha vida veio cortar de forma imprevista as esperanças dum recomeçar.
Sem saber como, apesar das inevitáveis demorar burocráticas achei-me em Lourenço Marques com um lugar de professor. Mais umas baladas (as últimas) e uma transferência para a Beira. Novo lapso e uma última oportunidade que me veio através do TAB (Teatro dos Amadores da Beira). Cardoso dos Santos empenhava-se num prazo mínimo de tempo em preparar a encenação de “A excepção e a regra” de Bertold Brecht. Faltava musicar e adaptar as canções que figuravam na tradução de Francisco Rebêlo. Assim fiz. Depois disto a mudez ou a decadência. Não sei bem.
Cidade da Beira . 1967