terça-feira, 20 de julho de 2010

ADÃO BARBOSA RIBEIRO!



O FERREIRO
1937 - 2010
Nunca é demais reafirmar que todos temos memória, temos história, e é em particular nos momentos fulgentes que recordamos aqueles que nos marcaram. Não nascemos hoje, e o que agora somos se deve ao trabalho e ao contributo á sociedade ao longo do tempo.
O fogo na fornalha afastou o mestre Adão da oficina de ferreiro em Novelas, onde durante décadas se criaram utensílios e ferramentas de ferro.
Lembro-me bem e recordo com sentimento profundo, a figura de “Adão o ferreiro” ou Adão Barbosa Ribeiro, que faleceu a 19 de Julho de 2010 e que aproveito para endereçar à família as minhas condolências e prestar esta homenagem.
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Sinais do tempo em Novelas (1976).
Recordar a arte de ferreiro.


Punhos, dedos, braços e ombros hipnotizavam pela força, o tronco que se vergava, e uma força imensa se desprendia de cada gesto.
Insuflava de ar o fole e revolvia as brasas incandescentes na fornalha onde mergulhava os ponteiros e cinzeis. Com a tenaz numa mão, na outra o martelo, de seguida colocava sobre a bigorna onde malhava uma e outra vez, para depois, a água fria tornar em tempestade de vapor o metal rubro.
O ar e a água, conspiravam sobre o ferro e o fole insuflava de vida o fogo e o ponteiro incandescente que rápido se movia da forja para a bigorna. Cuspia numa mão, alcançava o martelo com a outra, e o ferro rubro tombava sobre o corpo maciço e frio da bigorna, então subia o martelo atingindo por momentos o pino, para se precipitar brutal sobre o ponteiro de metal escaldante.
Os sucessivos embates, retiravam da matéria amolecida pelo calor a condição incandescente e voltava novamente para a forja onde uma enorme sanfona de pele, entre duas peças de madeira como duas palmas de mãos gigantes, se aproximavam e comprimiam expulsando o ar, que engenhosamente entrava na forja.
Durante décadas, do forno da bigorna e da sua força, saíram foucinhas, ponteiros, cinzeis, sacholas, machadas e enxadas, ultimamente portões e outros utensílios para a aldeia e freguesias vizinhas, usarem na construção e no campo.
O tempo passava e o senhor Adão tinha tempo, e sentia ritmicamente uma respiração profunda como a de um “Deus Vulcão”, que nos poucos metros quadrados da sua oficina, à beira da estrada junto à igreja de Novelas, conjurava elementos primordiais.
Para ele a oficina, guardava uma aura mitológica e de perpetuidade, no entanto sabia que era uma arte antiga e que mais tarde se tornaria num mito.
Dizia que ás vezes o aço que chegava á suas mãos não conseguia aguentar o tratamento e que sem qualquer piedade, pegava o martelo mais pesado e aplicava golpes até que a peça adquirisse a forma desejada.
Calava-se e malhava mais alguns momentos no ferro que chispava.
Revoltado devolveu o trabalho à fornalha, lançou-se ao fole e esmoreceu.
Eram cinco horas da tarde.
Tinha aceite as marteladas que a vida lhe deu, e ás vezes sentia-se tão frio e sensível, como a água que fazia sofrer o aço.
A única coisa que pedia, é que Deus tentasse da maneira que achasse melhor e pelo tempo que quisesse, mas que não desistisse de lhe dar forças. Fechou o enorme portão de ferro e comentou: - Hoje já não há ninguém a trabalhar no campo, e a técnica evoluiu. Acabou.
Sem gente para se interessar pela terra, o trabalho de ferreiro na freguesia de Novelas, encerrou mais cedo.
Durante algum tempo acompanhou amigos, e encontravam-se com facilidade na taberna a saborear um copo. Mais tarde encontrava-mo-lo a passear na cidade de Penafiel, onde acabaria por falecer.
“A forja e a bigorna morreram”, e com tudo isto hoje deixamos de ver também, “Adão o Ferreiro".
Descanse em Paz.
.........20 de Julho de 2010.........

Novelas



DVD - 46 "FIGURAS DE NOVELAS"

FERNANDO SANTOS - Um amigo do ambiente.
FERNANDO VIEIRA - Um amigo que nunca fez mal a ninguém.



Naquela tarde a Freguesia de Novelas chorou a morte de mais um ente querido. O amigo da natureza, Fernando Santos "Chica" deixou para sempre o mundo dos vivos para aquilo que todos esperam. A Paz, a Felicidade e uma Outra Vida com tudo o que a vida na Terra não lhe proporcionou e na forma como passou os últimos dias entre nós.
Muito próximo a Freguesia de Novelas voltou novamente a chorar desta vez via partir Fernando Vieira – “Careca” Um amigo que nunca fez mal a ninguém.
Já algum tempo que Fernando Santos, procurava nos familiares e amigos um ombro para poder aliviar a angústia que sentia da vida. A sua dor transformada em Alegria caracterizava a sua difícil existência e que esteve também presente nos últimos momentos.
Por outro lado o Fernando Vieira tinha feito uma intervenção cirúrgica recentemente, e notava-se a sua decadência e a sua força em resistir, embora preferisse viver a sua dor sozinho.
Mas o que falhou? Porque é que a vida é tão cruel para algumas pessoas? Qual a força que comanda um destino tão ruim para algumas vidas? Tentar responder a estas perguntas não se afigura uma tarefa fácil. A vida humana e tudo o que a ela diz respeito, é o mais bem guardado mistério que existe.
O Fernando Santos foi uma pessoa sem sorte na vida, sem momentos felizes, sem uma oportunidade de mudar o rumo traçado por um destino tão amargo. Oriundo de uma família honesta e humilde, desde cedo este homem descobriu que o sonho de uma existência sem sobressaltos era apenas uma miragem.
Ambos, mostravam de um forma tão prematura a falta pelo carinho materno que perderam apesar de sempre apoiado pela sua família mas a verdade e que a vida fora com eles madrasta.
Mas porque é que a vida é feita de tanta má sorte e tanta injustiça? O que é que estes homens fizeram de errado para ter uma existência ultimamente tão desarranjada? É assim infelizmente o mundo em que vivemos. Por mais que se pense, que se tente achar uma explicação, nenhuma hipótese faz sentido. Nem a Filosofia consegue ser coerente nas soluções que encontra para alguns fenómenos que fazem parte do universo do Ser Humano.
Mas uma coisa é certa, os dois foram realmente diferentes da maioria de um povo, e morreram pobres, só porque nunca roubaram ninguém.

Aqui fica a sentida homenagem a dois homens que sempre tentaram encontrar a felicidade e só se depararam pela frente barreiras à realização desse desejo.
Apesar da vida lhe ser tão cruel, reconhecemos o seu trabalho inserido no Novelartecine em que Fernando Vieira, desempenhou o papel de Raia com momentos muito alegres e o Fernando Santos deixa-nos boas recordações com o seu conhecimento.

Novelas
Rfbmeireles



O MARINHEIRO



António Luís Meireles da Rocha Barbosa.

Nasceu a 15 de Agosto de 1958 e faz hoje dia 7 de Fevereiro de 2010 um ano que António Luís Meireles da Rocha Barbosa partiu… com 50 anos. “ O Marinheiro” para uns ou “Dallas” para os amigos.
É preciso compreensão para se ter conforto, neste triste momento de perda. Procura-se um alento mesmo insignificante para, tentar entender e aceitar a indesejada separação de um ente querido que partiu.
Quem se acha preparado para suportar a morte ou a dor da perda? Quem se conforma com ela?
Viver tem destas coisas e, por isso mesmo, quase sempre somos colocados à prova. Tudo porque a morte não nos confere alternativa e, em face dela aprendi que só há um caminho. Ou a aceitamos ou a aceitamos.
Trata-se apenas de uma espécie de contrato de adesão, com cláusulas pré-estabelecidas, que não admitem modificação, temos sempre que a elas aderir. É assim, e assim sempre será, coexistindo com duas únicas certezas: uma, a de que um dia nascemos, e a outra, que cedo ou tarde morreremos.
Ele próprio o sabia, o organismo ficava dependente e a falta, provocava um grande mal-estar físico que levava á necessidade, por outro lado, a pressão do grupo, o gosto pelo risco, a fuga a determinados problemas, e finalmente o serviço prestado na experiência com a ciência, acabariam por culminar nas principais causas da sua morte.
Ambos acreditamos na existência de uma outra vida espiritual e com ele partilhei da opinião de que morremos para viver mais. Foi esplêndida a sua participação no filme Raia/Picota crossed lives. A mesma vida que nos concedeu oportunidade e a alegria de com ele conviver, relacionar e compartilhar, nos é retirada da sua presença.
A dor da sua ausência vem sendo sentida. Tudo porque estamos acostumados, com raríssimas excepções, a ver a vida com os olhos do materialismo e não com a visão da alma.

Aqui fica a nossa sentida homenagem
Novelas
Rfbmeireles


 Homenagem a um Amigo
Manuel de Sousa Pinto Barros


Nasceu a 26-06-1934 Faleceu a 13-08-2007


A manhã triste do dia 13 de Agosto de 2007, tornou-se numa manhã cinzenta e a freguesia de Novelas acordou sob a notícia de impacto, quando faltavam poucos minutos paras as 10 horas. Um terrivel acidente tirava a vida a Manuel de Sousa Pinto Barros.
Num país poupado pela violência sem guerras ou fenómenos naturais como terramotos, tsunamis e furacões que devastam sem clemência, a vida deveria valer um pouco mais.
Foi a poucos metros de uma paragem na avenida 5 de Outubro em Valongo, esperava o arranque de um autocarro de passageiros para passar para o outro lado da via. Mal aquele veículo saiu, atravessou sem reparar que se aproximava um camião TIR. Começou por dar uma pequena corrida, as pessoas estavam distraídas, nem deram por ela, mas foi um acidente fatal, o camião passou e este homem ficou no chão em paragem cardio-respiratória. Durante 20 minutos foi tentada a sua reanimação com a chegada da VMER do Hospital de S. João", mas todos os esforços foram em vão.
Manuel de Sousa Pinto Barros, nasceu a 26 de Junho de 1934, era Inspector reformado dos caminhos-de-ferro e um amigo que admirava.
No tempo em que a antiga estação era um local de encontro da população, ele e um conjunto de amigos estiveram solidários contra a sua deslocação, mas a luta que desenvolveram não sortiu efeito.
Um dia, pediu-me insistentemente para colaborar com ele num opúsculo que publicaram e mais tarde Manuel de Sousa Pinto Barros apesar de ter um sentido apurado de ironia, sentia-se desiludido por não conseguirem vencer a contenda.
Tomo a liberdade de transcrever, uma carta por ele endereçada aos Novelenses.

Mensagem de Manuel de Sousa Pinto Barros

“Olho á minha volta e vejo que tudo é belo, então apercebo-me de que pessoalmente sou forçosamente um homem muito feliz.
Sou feliz, porque conheço pessoas fantásticas como você e outras, sou feliz porque partilho sorrisos olhares e conversas de amigos, sou feliz porque ainda estou aqui, junto de pessoas amigas com particularidade na aldeia que me viu nascer.
Neste mundo que me rodeia não há nada, mas mesmo nada a não ser a previdência Divina, que me impeça de pretender ser uma pessoa feliz.
Caminhar, caminhar e concretizar os meus sonhos, sorrir e gritar bem alto ao mundo para dizer o que se sente a todas as pessoas, de que a guerra não leva ninguém a lado nenhum para termos o que queremos ter. Só é preciso que cada pessoa faça a sua luta honestamente. Não é preciso nem é necessário recorrer á maldição das armas, não é preciso recorrer á violência, mas sim corresponder em qualquer circunstância com um simples sorriso e ao mesmo tempo com um gesto de ternura.
Por tal facto insisto dizer que sou feliz, porque através desta mensagem tenho o pressentimento de conseguir colocar todas as pessoas com uma certa dose infinita de felicidade.
Por vezes fico triste e comovido, por saber que no mundo em que vivemos, existem coisas maravilhosas e tão belas, mas que os homens mais poderosos deste planeta só sabem resolver os problemas com a força das armas de guerra, causando a morte de milhões de pessoas e crianças inocentes e o caos da destruição.
Eu me confesso, apesar de ser uma pessoa feliz, sinto ter uma dor sentimental a qual me deixou marcas com cicatrizes e que são difíceis de desaparecer, exemplificando o motivo.
O silêncio vivido por parte das pessoas responsáveis na altura de um passado recente, resultou a que não tiveram força necessária para accionar o travão acerrimamente contra os invasores, para que a centenária estação denominada Penafiel não tivesse o triste desfecho que infelizmente teve. Pois esta situação poderia ser evitada por força de uma acção popular desta aldeia de Novelas, porque o caso tinha pano para mangas e o assunto teria sido resolvido com outras directrizes.
Assim com a mudança da nova estação ferroviária para o deserto, Novelas não merecia ficar mais pobre, porque o seu coração foi selvaticamente estrangulado.
Agora que está tudo resolvido a contendo de muita gente interessada, o meu gesto de revolta para sempre”.

Ass. Manuel de Sousa Pinto Barros

Foi alguém que viveu com a certeza de que a ”guerra e a força das armas não levam a lado nenhum” bem como o seu “gesto de revolta” com a deslocação da antiga estação denominada Penafiel para aquilo que considerava deserto, mas apesar de tudo sentia-se feliz, por conseguir colocar todas as pessoas com uma dose infinita de felicidade.
Contudo, cada povo conduz a sua saga e numa sociedade assim, nem as pessoas com silhueta de gente, conseguem ser indiferentes á sua partida. Quem com ele conviveu não poderá jamais negar a sua impetuosidade em falar da revolta que lhe vinha à mente sobre algumas atitudes marcantes, frente a determinadas situações sérias.
Penso que nestas ocasiões apesar de pouco, muito haveria para ser dito, e esta frase demonstra com clareza um pouco da sua vida:
“Sou realmente feliz. Manuel de Sousa Pinto Barros”.
Contrariando o texto, acostumamo-nos tanto com a maldade que já não temos forças, para discordar com a violência. A vida vale muito mais!
Que bom seria se todos conseguissem ver… mas ignoramos por preconceito, por indiferença, frieza, por não querermos ver – a cegueira consciente.

Saudades.
Novelas
Rfbmeireles
Adão Barbosa Ribeiro
1937 - 2010



Nunca é demais reafirmar que todos temos memória, temos história, e é em particular nos momentos fulgentes que recordamos aqueles que nos marcaram. Não nascemos hoje, e o que agora somos se deve ao trabalho e ao contributo á sociedade ao longo do tempo.
O fogo na fornalha afastou o mestre Adão da oficina de ferreiro em Novelas, onde durante décadas se criaram utensílios e ferramentas de ferro.
Lembro-me bem e recordo com sentimento profundo, a figura de “Adão o ferreiro” ou Adão Barbosa Ribeiro, que faleceu a 19 de Julho de 2010 e que aproveito para endereçar à família as minhas condolências e prestar esta homenagem.
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Sinais do tempo em Novelas (1976).
Recordar a arte de ferreiro.


Punhos, dedos, braços e ombros hipnotizavam pela força, o tronco que se vergava, e uma força imensa se desprendia de cada gesto.
Insuflava de ar o fole e revolvia as brasas incandescentes na fornalha onde mergulhava os ponteiros e cinzeis. Com a tenaz numa mão, na outra o martelo, de seguida colocava sobre a bigorna onde malhava uma e outra vez, para depois, a água fria tornar em tempestade de vapor o metal rubro.
O ar e a água, conspiravam sobre o ferro e o fole insuflava de vida o fogo e o ponteiro incandescente que rápido se movia da forja para a bigorna. Cuspia numa mão, alcançava o martelo com a outra, e o ferro rubro tombava sobre o corpo maciço e frio da bigorna, então subia o martelo atingindo por momentos o pino, para se precipitar brutal sobre o ponteiro de metal escaldante.
Os sucessivos embates, retiravam da matéria amolecida pelo calor a condição incandescente e voltava novamente para a forja onde uma enorme sanfona de pele, entre duas peças de madeira como duas palmas de mãos gigantes, se aproximavam e comprimiam expulsando o ar, que engenhosamente entrava na forja.
Durante décadas, do forno da bigorna e da sua força, saíram foucinhas, ponteiros, cinzeis, sacholas, machadas e enxadas, ultimamente portões e outros utensílios para a aldeia e freguesias vizinhas, usarem na construção e no campo.
O tempo passava e o senhor Adão tinha tempo, e sentia ritmicamente uma respiração profunda como a de um “Deus Vulcão”, que nos poucos metros quadrados da sua oficina, à beira da estrada junto à igreja de Novelas, conjurava elementos primordiais.
Para ele a oficina, guardava uma aura mitológica e de perpetuidade, no entanto sabia que era uma arte antiga e que mais tarde se tornaria num mito.
Dizia que ás vezes o aço que chegava á suas mãos não conseguia aguentar o tratamento e que sem qualquer piedade, pegava o martelo mais pesado e aplicava golpes até que a peça adquirisse a forma desejada.
Calava-se e malhava mais alguns momentos no ferro que chispava.
Revoltado devolveu o trabalho à fornalha, lançou-se ao fole e esmoreceu.
Eram cinco horas da tarde.
Tinha aceite as marteladas que a vida lhe deu, e ás vezes sentia-se tão frio e sensível, como a água que fazia sofrer o aço.
A única coisa que pedia, é que Deus tentasse da maneira que achasse melhor e pelo tempo que quisesse, mas que não desistisse de lhe dar forças. Fechou o enorme portão de ferro e comentou: - Hoje já não há ninguém a trabalhar no campo, e a técnica evoluiu. Acabou.
Sem gente para se interessar pela terra, o trabalho de ferreiro na freguesia de Novelas, encerrou mais cedo.
Durante algum tempo acompanhou amigos, e encontravam-se com facilidade na taberna a saborear um copo. Mais tarde encontrava-mo-lo a passear na cidade de Penafiel, onde acabaria por falecer.
“A forja e a bigorna morreram”, e com tudo isto hoje deixamos de ver também, “Adão o Ferreiro".
Descanse em Paz.

.........20 de Julho de 2010.........
Rfbmeireles