sexta-feira, 13 de agosto de 2010

MANUEL DE SOUSA PINTO BARROS

 
Homenagem a um Amigo

Nasceu a 26-06-1934  Faleceu a 13-08-2007


A manhã triste do dia 13 de Agosto de 2007, tornou-se numa manhã cinzenta e a freguesia de Novelas acordou sob a notícia de impacto, quando faltavam poucos minutos paras as 10 horas. 
Um terrível acidente tirava a vida a Manuel de Sousa Pinto Barros. Num país poupado pela violência sem guerras ou fenómenos naturais como terramotos, tsunamis e furacões que devastam sem clemência, a vida deveria valer um pouco mais. Foi a poucos metros de uma paragem na avenida 5 de Outubro em Valongo, esperava o arranque de um autocarro de passageiros para passar para o outro lado da via. Mal aquele veículo saiu, atravessou sem reparar que se aproximava um camião TIR. Começou por dar uma pequena corrida, as pessoas estavam distraídas, nem deram por ela, mas foi um acidente fatal, o camião passou e este homem ficou no chão em paragem cardio-respiratória. Durante 20 minutos foi tentada a sua reanimação com a chegada da VMER do Hospital de S. João", mas todos os esforços foram em vão.
Manuel de Sousa Pinto Barros, nasceu a 26 de Junho de 1934, era Inspector reformado dos caminhos-de-ferro e um amigo que admirava. No tempo em que a antiga estação era um local de encontro da população, ele e um conjunto de amigos estiveram solidários contra a sua deslocação, mas a luta que desenvolveram não sortiu efeito. Um dia, pediu-me insistentemente para colaborar com ele num opúsculo que publicaram e mais tarde Manuel de Sousa Pinto Barros apesar de ter um sentido apurado de ironia, sentia-se desiludido por não conseguirem vencer a contenda.
Tomo a liberdade de transcrever, uma carta por ele endereçada aos Novelenses.



Olho á minha volta e vejo que tudo é belo, então apercebo-me de que pessoalmente sou forçosamente um homem muito feliz.
Sou feliz, porque conheço pessoas fantásticas como você e outras, sou feliz porque partilho sorrisos olhares e conversas de amigos, sou feliz porque ainda estou aqui, junto de pessoas amigas com particularidade na aldeia que me viu nascer.
Neste mundo que me rodeia não há nada, mas mesmo nada a não ser a previdência Divina, que me impeça de pretender ser uma pessoa feliz.
Caminhar, caminhar e concretizar os meus sonhos, sorrir e gritar bem alto ao mundo para dizer o que se sente a todas as pessoas, de que a guerra não leva ninguém a lado nenhum para termos o que queremos ter. Só é preciso que cada pessoa faça a sua luta honestamente. Não é preciso nem é necessário recorrer á maldição das armas, não é preciso recorrer á violência, mas sim corresponder em qualquer circunstância com um simples sorriso e ao mesmo tempo com um gesto de ternura.
Por tal facto insisto dizer que sou feliz, porque através desta mensagem tenho o pressentimento de conseguir colocar todas as pessoas com uma certa dose infinita de felicidade.
Por vezes fico triste e comovido, por saber que no mundo em que vivemos, existem coisas maravilhosas e tão belas, mas que os homens mais poderosos deste planeta só sabem resolver os problemas com a força das armas de guerra, causando a morte de milhões de pessoas e crianças inocentes e o caos da destruição.
Eu me confesso, apesar de ser uma pessoa feliz, sinto ter uma dor sentimental a qual me deixou marcas com cicatrizes e que são difíceis de desaparecer, exemplificando o motivo.
O silêncio vivido por parte das pessoas responsáveis na altura de um passado recente, resultou a que não tiveram força necessária para accionar o travão acerrimamente contra os invasores, para que a centenária estação denominada Penafiel não tivesse o triste desfecho que infelizmente teve. Pois esta situação poderia ser evitada por força de uma acção popular desta aldeia de Novelas, porque o caso tinha pano para mangas e o assunto teria sido resolvido com outras directrizes.
Assim com a mudança da nova estação ferroviária para o deserto, Novelas não merecia ficar mais pobre, porque o seu coração foi selvaticamente estrangulado.
Agora que está tudo resolvido a contendo de muita gente interessada, o meu gesto de revolta para sempre”.
Ass. Manuel de Sousa Pinto Barros

Foi alguém que viveu com a certeza de que a ”guerra e a força das armas não levam a lado nenhum” bem como o seu “gesto de revolta” com a deslocação da antiga estação denominada Penafiel para aquilo que considerava deserto, mas apesar de tudo sentia-se feliz, por conseguir colocar todas as pessoas com uma dose infinita de felicidade.
Contudo, cada povo conduz a sua saga e numa sociedade assim, nem as pessoas com silhueta de gente, conseguem ser indiferentes á sua partida. Quem com ele conviveu não poderá jamais negar a sua impetuosidade em falar da revolta que lhe vinha à mente sobre algumas atitudes marcantes, frente a determinadas situações sérias.
Penso que nestas ocasiões apesar de pouco, muito haveria para ser dito, e esta frase demonstra com clareza um pouco da sua vida:
“Sou realmente feliz. Manuel de Sousa Pinto Barros”.
Contrariando o texto, acostumamo-nos tanto com a maldade que já não temos forças, para discordar com a violência. A vida vale muito mais!
Que bom seria se todos conseguissem ver… mas ignoramos por preconceito, por indiferença, frieza, por não querermos ver – a cegueira consciente.
Saudades.


Novelas 13 de Agosto de 2010