O RELÓGIO NÃO PÁRA!
A vivência com alguns criadores, poetas, cantores e escritores, a participação activa em 35 eventos culturais e noites de poesia nas diversas Associações, Cooperativas e Cafés, o contacto de alguns amigos e amigas e a actividade Profissional, ao longo deste ano deixaram-nos perplexos.
A todos, eu e a minha família deve, mas em especial aos amigos e amigas que com eles aprendemos. Muito Obrigado.
Não sei como explicar!
O relógio não pára e já aí vem mais um Natal.
- Sabem, nesta quadra natalícia, lembrei-me da minha infância, parece que foi ontem que brincava na rua.
Que saudades! Era eu uma criança, só tinha nove anos, a lareira com uma pedra no chão, e sobre ela a lenha abrasava a cozinha, onde se avistava um pai natal de chocolate, pendurado numa árvore com presépio a brilhar.
Eu de risca ao lado, com um cabelo perfeito, jogava ao peão na rua com os amigos.
Era um tempo em que todos nós tínhamos tempo, as famílias, os vizinhos, juntavam-se nos alpendres, nas varandas e nas lareiras, a conversar. Um tempo em que os pais idealizavam e os amigos proseavam, enquanto as mulheres tricotavam, e as crianças como eu sonhavam, com o pai natal.
O meu pai com uma grande escola tinha passado o ano inteiro para os outros a trabalhar...; ali sentado ao nosso lado a olhar, sempre fazia uma surpresa com uma prenda para nos dar.
Eu não ligava, sabia que o importante não me faltava, tinha os amigos, tinha família, tinha os meus pais.
Os anos passaram e não sei como explicar.
Vi perderem-se os valores, acabarem com a harmonia, o conceito de família e a história é sempre a mesma.
Que pena, tínhamos o mundo nas nossas mãos, mas vimos fugir por entre os dedos a maravilha da harmonia.
Acho que conceito de família se deu mal, ao trocar as conversas de varandas, alpendres e lareiras por, Playstation, Iphones, computadores, novelas e novelas… e a violência na TV.
Foram epidemias que retiraram aos jovens e crianças o mais elementar entre o elementar, escrever com a sua própria mão e saber o resultado de uma multiplicação.
Já passou mais um Natal e eu não sou contra o progresso. Não.
Juro que não, mas a evolução arrefeceu mais as famílias, hoje o carinho é cada vez menos, não se valorizaram as qualidades e sem nos apercebermos fomos afastados, desprezados e por vezes até humilhados.
As pessoas estão cada vez mais intolerantes, desgastaram-se na valorização dos defeitos dos outros, as relações de hoje não duram e a ausência da palavra desculpa está cada vez mais presente.
Não vemos mais velhos como antigamente: Não vemos mais um pai a elogiar um filho, como o meu pai muitas vezes me elogiou; não vemos mais um filho a elogiar o pai, como eu sempre o fiz, e os meus filhos agora fazem comigo.
Sinto um orgulho muito grande e penso.
Porque será que há tantos filhos, que têm mais que um palácio, e que davam mais valor, a um abraço ou ao carinho de pais ausentes, que parece que não tem!
Eu não sou contra o progresso, não.
JURO QUE NÃO!
Mas continuo-o é a ver futilidades!
Porra. Já passou…mais um Natal!.
Valorizaram-se as pessoas que usaram a imagem para ganhar dinheiro, mas a ausência do elogio contínua muito distante das pessoas e famílias.
Contínua a falta de diálogo nos lares, e o orgulho ou agitação da vida, impediram que as pessoas exprimissem o que sentiam para depois despejarem as carências nos consultórios, então terminam os casamentos, e procuram noutras pessoas o que não encontram dentro de casa.
Não acredito, estamos no Natal! O tempo correu e a agitação é ainda maior.
E eu… Não sou contra o progresso. Não.
Juro que não!
Sinto-me feliz, porque vejo a maravilha de ter uma família, no entanto há outros que a não tem.
Falam da separação ou do divórcio, vivemos numa sociedade em que o amor se tornou num compromisso de ninguém, um não precisa do outro, mas vive sozinho e não se sente feliz.
Uma forte motivação na vida de cada um com um elogio, pode fazer a diferença. Elogiar um bom profissional, uma boa atitude, a ética, a beleza de um amigo ou amiga, elogiar o bom comportamento dos filhos, é mais do que necessário para se ser feliz.
O bom profissional gosta de ser reconhecido, o amigo sente-se bem por ser elogiado, o bom filho fica feliz por ser louvado, e o pai ou a mãe sentem-se bem, ao serem amados e amparados.
Trinta e sete anos passaram depois desse Natal de 73; não acredito.
Já estamos no Natal e eu não sou contra o progresso, não.
Mas não juro que não, e também não é mais um Natal, nem vou esperar pelo Natal!
Completei 46 anos, vi partir alguns amigos, desaparecer o meu pai, estou calvo, faltam-me três dentes, não me saiu a lotaria e também espero que não me saia.
Acabei de dizer o que tinha para dizer, e certamente farei tudo o que tiver de fazer para me sentir ainda mais orgulho em realmente ser um homem feliz.
Nesta quadra natalícia, não deixes que seja mais um Natal.
Quando estiveres junto á lareira lembra-te destas palavras e também dos teus pais, dos teus filhos, dos teus amigos ou de quem gostas, pois a vida é aquilo que queres que ela seja.
Faz-lhe chegar um grande abraço, dessa forma terei a certeza que nesse momento desenvolveste uma forte sensibilidade, e que farás um esforço contínuo para manter a estrutura familiar.
Se escrever der muito trabalho, não tenhas pressa.
Lê com sentimento, sabe o princípio, o meio e o fim…;com diálogo ajuda a devolver o conceito de família a quem a não tem e tenho a certeza que será feliz.
Natal é quando o homem quiser, é todos os dias!
À minha família, a todas os meus amigos e amigas, com esperança:
Um forte abraço e um feliz Natal 2010.
Novelas, 22 de Novembro de 2010.